Jacarezinho é Notícia na Polônia

20/05/2020

Imprensa polonesa repercutiu a descoberta do túmulo de Andrzej Lubomirski no Brasil e familiares do príncipe entram em contato para saber mais informações

O portal Nowiny24 publicou: "Um Jornalista Brasileiro encontrou o Túmulo do Príncipe Andrzej Lubomirski, de Przeworsk, em seu país"
O portal Nowiny24 publicou: "Um Jornalista Brasileiro encontrou o Túmulo do Príncipe Andrzej Lubomirski, de Przeworsk, em seu país"

 

Por Fabiano Oliveira

A notícia de que alguém no Brasil buscava informações sobre o príncipe Andrzej Lubomirski (morto em 1953 na cidade de Jacarezinho) ganhou as manchetes de inúmeros noticiários da Polônia, país onde o príncipe nasceu em 1862 e se destacou como uma personalidade importante no começo do século passado (saiba mais sobre o príncipe na reportagem publicada no dia 11 de maio em  https://abre.ai/avulsoss.)

A primeira reportagem sobre o assunto foi publicada em dezembro do ano passado, logo após o Museu de Przewosrk e a Fundação Príncipes Lubomirski (com sede em Varsóvia) enviarem as primeiras informações sobre quem era o nobre polonês sepultado no norte do Paraná.

O jornal Super Nowosci 24, por exemplo, trouxe a manchete "O Túmulo de Andrzej Lubomirski encontrado no Brasil" e destacou que, após quase 70 anos, o túmulo atraiu o interesse de um jornalista brasileiro.

O portal Rzészow Eska Info (algo como "Notícias de Rzészow) escreveu que "A lápide de pedra não se parece nada com o túmulo de um nobre. No entanto, o jornalista brasileiro Fabiano Oliveira ficou tentado em saber quem era o príncipe Andrzej Lubomirski, nascido em 22 de julho de 1862."

Já o Nowiny24 destacou que a informação de que Andrzej Lubomirski estava sepultado em Jacarezinho já era de conhecimento dos poloneses. No entanto

 "foi uma surpresa que alguém no Brasil, depois de tantos anos, tenha se   interessando   pela tumba de um príncipe da distante Polônia e se esforçado   para  levar essa informação à instituição de Przeworsk, a cidade de       Lubomirski".  

Os noticiários também deram informações sobre a cidade onde o príncipe viveu os últimos dias. O portal Korso24.pl explicou que "Jacarezinho fica no Estado do Paraná, no sul do Brasil. Tem cerca de 40 mil habitantes e é reconhecida por ter um dos melhores cursos de direito do país". O site ressaltou porém, que "o príncipe de Przeworsk está enterrado em uma tumba modesta (...) um pouco negligenciada e esquecida".


Manchete do portal polonês Rzeszów Eska Info: "Jornalista Brasileiro descobre Tumba do Príncipe Polonês"
Manchete do portal polonês Rzeszów Eska Info: "Jornalista Brasileiro descobre Tumba do Príncipe Polonês"

Familiares entram em contato


À partir de 1944 os filhos do príncipe Lubomirski  saíram do país por causa da geurra. O patriarca Andrzej, junto com o filho Jerzy, se estabeleceu na França antes de vir para o Brasil em 1952.  A filha Tereza foi para o Quênia, na África; e a caçula Maria se mudou para os Estados Unidos. Hoje todos são falecidos. 

Porém, no final de março Anthony Potulicki entrou em contato o editor do blog. Ele é o primogênito de Maria Innocenta Potulicki, a filha mais nova de Andrzej.  Aos 97 anos, ele mora em Nova York e - junto com o irmão mais novo que mora no Canadá - é um dos únicos netos ainda vivos do príncipe. Ele recordou com carinho dos tempos em que convivia com o avô. "Como a residência de meus pais ficava perto de Lwów (hoje Lwiw Ucrânia), eu e meus dois irmãos passávamos muitos meses nas duas residências de meus avós: inverno na cidade de Lwów e verão na cidade de Przeworsk, no sudeste da Polônia". Potulicki também relembrou da última vez em que esteve com o avô, quando o príncipe e os familiares foram feitos prisioneiros pelos alemães na propriedade de Przewosrk, pouco antes do fim da 2ª Guerra. 

"Permanecemos na casa de hóspedes, em uma espécie de prisão domiciliar por mais vários meses, com permissão para visitar o palácio. Essa época foi meu último e mais próximo contato com meu avô, que depois de uma longa vida de esplendor, privilégios e atividade patriótica, se encontrou em um mundo desconhecido e hostil", relata. 

A última correspondência entre o príncipe e o neto data do final dos anos 1940, quando Andrzej estava na Bélgica e Anthony trabalhava como ajudante de limpeza em um hospital, no Canadá.

Foto atual de Anthony Potulicki. Ele tem 97 anos e vive em Nova York. Junto com Andrew, o irmão mais novo que vive no Canadá, são os únicos netos ainda vivos do príncipe Andrzej Lubomirski.
Foto atual de Anthony Potulicki. Ele tem 97 anos e vive em Nova York. Junto com Andrew, o irmão mais novo que vive no Canadá, são os únicos netos ainda vivos do príncipe Andrzej Lubomirski.

As fotos do túmulo de Andrzej também chegaram em Nairobi, no Quênia, onde Teresa Sapieha, de 72 anos, vive com a família. Ela é bisneta do príncipe, e também se mostrou emocionada ao saber mais sobre o último chefe de Przeworsk. 

"É incrível obter informações sobre meu bisavô. Eu e minha irmã  sabíamos muito pouco sobre ele. Apenas que ele foi para o Brasil e sua esposa, minha bisavó, morreu na França. Estive no Rio de Janeiro há alguns anos; perguntei sobre ele e não obtive informações", explica Teresa Sapieha.


As três bisnetas de Andrzej Lubomirski que vivem no Quênia. Teresa Sapieha (sentada no banco do jipe), Anna Joanna Sapieha (em pé na carroceria do jipe) e  Maria Gabriela Sapieha.
As três bisnetas de Andrzej Lubomirski que vivem no Quênia. Teresa Sapieha (sentada no banco do jipe), Anna Joanna Sapieha (em pé na carroceria do jipe) e Maria Gabriela Sapieha.

Nenhuma das bisnetas quenianas de Andrzej o conheceram pessoalmente. O pouco que sabem sobre ele provavelmente foi contado pelo pai delas, o príncipe Eustachy Seweryn Sapieha. Eustachy era neto de Lubomirski e morreu em 2004. Em 2000 ele lançou uma autobiografia na qual revela traços da personalidade do avô:

"Pessoas como o vovô não se conhece sempre. Ele vivia com bondade e simplicidade. Ele tinha um grande talento: foi capaz de escolher funcionários inteligentes, dedicados, e talvez o mais importante - funcionários honestos. Com uma energia inacreditável e um certo poder criativo, ele conseguiu fazer de Pzeworsk uma maçã dourada. Quando ele assumiu, ela não era pobre, já era uma bela propriedade. Mas foi ele quem fez dela uma das propriedades mais desenvolvidas do país".

As reportagens repercutiram não só entre os familiares do príncipe, mas também entre os poloneses. No portal wykop.pl alguns leitores pediram que as autoridades polacas fizessem algo em relação ao túmulo do príncipe. Um deles chegou a escrever: "Ele participou da reconstrução do país após a independência e foi premiado com a Ordem da Polônia Restituta. Isso deve ser suficiente para fazer com que a embaixada no Brasil ou o museu se sintam obrigados a limpar o túmulo do homem".